Corte desconexo do tempo. Sete corpos sem estrada se voltam para o céu novamente. Lá de cima nos juntamos em desejo aos corpos celestes para esfregar de novo a Terra, viajando na velocidade de um dia atrás do outro durante o ano que poderia não ter nos atingido.
Quatro mil quilômetros e mais de hum mil oitocentos e vinte e cinco dias depois descobrimos anfiteatros nas paredes dos nossos quartos. Os sons vêm da cidade e dos vizinhos, dos carros que nunca deixaram de passar. Nesse ano-luz sem São João pudemos nos conectar infinitas vezes à festa do padroeiro de Juá, no norte da Bahia, através dos arquivos que visitamos, como se construíssemos para nós mesmos um observatório improvável do nosso nordeste sonhado. Nossos olhos se expandem em binóculos-órtese para reencontrar a viagem que fizemos em 2015 por três regiões do semiárido nordestino. Novas práticas. Rearranjos em interrupção contínua. Quadrados luminosos de uma vida condensada. Crise permanente orbita nosso futuro impreciso. A morte ali, aqui, nossa vizinha. Percurso repetido, retorno sem espaço. A viagem recomposta em 2020 se transmuta em movimentos novos nas obras Polígono de Poeira, de Leonardo Mouramateus; Fulminante de Márcio Medeiros, Allan Diniz; Rarazu de Loreta Dialla e Ayrton Pessoa Bob e Guiar, de Ana Luiza Rios. Do céu estrelado da primeira noite no Crato, reunimos obras novas e antigas dessa nova viagem em galeria. Que o percurso pela nossa cosmologia inventada seja um convite a viajar novamente conosco. Teatro Máquina 18.06.2015
primeiro dia. banho/batismo no Caldeirão. |